quarta-feira, 4 de maio de 2016

"A culpa é das estrelas"




por Babi Stein


"Ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação [...]."
Assim começa o Artigo 2º da Lei n. 7853, de 24 de outubro de 1989, que mostra apoio àqueles que apresentam alguma deficiência e assegura seus direitos como cidadãos. 
A lei dirige-se inicialmente ao "Poder Público e seus órgãos" e por vezes parece que paramos por aí ao analisá-la. Se a lei diz que os direitos de pessoas com alguma necessidade especial são os deveres de quem quer que seja que não nós mesmos, não somos capazes de assumir qualquer responsabilidade que não de garantir que o Poder Público e seus órgãos cumpram com todo o "combinado". Afinal, se eu coloquei determinadas pessoas no Poder foi para que me dessem as melhorias, me representando, sendo como que eu mesmo nos lugares em que atuará. O que eu faço ou deixo de fazer influencia, portanto, o que aqueles que coloquei no Poder farão. 
Não vemos inclusão nas escolas. Não aquela que sonhamos. Um professor sente dificuldade para dar aulas de mesmo nível a um aluno com alguma necessidade a mais. O Governo não lhe ofereceu preparação? Sem dúvida. Mas aqui quero chegar a outro ponto. Vejo um professor cansado, em uma turma tumultuada, tentando dar uma boa aula, e ainda tem que conseguir dar o atendimento diferenciado para a melhor percepção do aluno especial. Vejo um professor que parece desistir um pouco a cada dia, pois a batalha é dura. 
Vejo alunos ignorando – parcial ou completamente – a existência de colegas seus que não têm a mesma agilidade que os demais. Vejo alguns que tentam dar um pouco de atenção. Vejo-os percebendo que é difícil e que, ora, a prova de matemática é no próximo período! Não há tempo a perder... Outra hora, com mais tranquilidade, voltamos a tentar. Agora fica difícil. 
E aos poucos temos alunos de inclusão excluídos.
Mas que culpa temos? Não temos preparação, não temos tempo, não temos jeito... Incrementando a frase, podemos dizer: Não temos preparação do Governo, não temos tempo a perder, não temos jeito com isso... 
Estamos apenas tirando uma culpa que é nossa.
Que eu busque a preparação em mim, em meus valores, em pessoas que eu confio; que eu vá atrás das famílias para aprender algo do aluno; que eu aplique isso com ele. Não é um tempo que perdemos, é um tempo que gastamos, que empregamos, que utilizamos de boa forma para socorrer essas pessoas. E "isso" que não temos jeito não é aquele ser humano; é uma limitação apresentada por ele, como as limitações que cada um apresenta em qualquer relação com os demais. Não limitemos a pessoa ao "problema".
            A culpa não é da falta de estrutura física do colégio. A culpa não é da falta de funcionários. A culpa não é do Governo; ele só representa é falta de humanidade que temos em nós.




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