segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Obsolescência programada e a produção para o descarte




por Adriano S. M.



            Atualmente é normal se ouvir que a cada ano a empresa Apple lança um Iphone melhor que seu antecessor. E quais são as diferenças do novo modelo? Uma tela ligeiramente maior, melhorias no software, design novo, novos aplicativos exclusivos, novas aplicações e outros. Os que não estão acostumados dirão que isso é exploração do consumidor, o que de certa forma não deixa de ser; achariam também um absurdo o grande marketing que é feito em cima de cada produto novo feito por essas empresas, que produzem e distribuem suas mercadorias com poucas novidades para um mercado manipulado pela propaganda e incitado ao consumo como hábito, para assim aumentar o valor da marca e ganhar mais espaço nesse mercado necessitado.
            Todo esse movimento de investimento no marketing e diminuição do tempo de circulação de um produto começou como uma ideia em 1925, quando cartel Phoebus, um grupo formado pelos maiores produtores de lâmpadas dos Estados Unidos e da Europa, decidiu que deveriam diminuir o tempo de duração das suas lâmpadas de 2.500 horas para 1.000 horas, barateando assim a produção e aumentando o lucro de suas empresas filiadas. Porém o conceito de “obsolescência programada” só foi criado por Bernard London, um investidor imobiliário norte-americano, que trazia à tona novamente a ideia de reduzir a duração útil dos produtos para impulsionar o mercado americano que passava pela crise da Grande Depressão, em 1929.
            Porém a ideia não foi aceita e por ser considerada como radical para a época foi refutada. A ideia de London só foi posta em prática na década de 1950 pelo design industrial Brooks Stevens, no início do período conhecido como Guerra Fria (que se iniciou logo após o término da Segunda Grande Guerra, em 28 de agosto de 1945). Stevens era famoso por fazer desenhos modernos para o desenvolvimento de produtos. Ele defendia a obsolescência programada veementemente e argumentava que ela dependia somente do consumidor dizendo: “Todos os consumidores desejam novos produtos no mercado e são livres para decidir comprá-los ou não, não importando se a duração do produto é menor ou maior”. Com essa redução de vida útil dos produtos e o investimento maior em propaganda, a ideia de comprar por necessidade era substituída pela necessidade de comprar por hábito.
            Com a redução da vida útil veio também a necessidade do descarte do produto inutilizado, e com isso vem a necessidade de comprar o mesmo produto para substituir o descartado. Atualmente isso é visto constantemente na área de tecnologia voltada aos computadores e telefones celulares. A cada semestre empresas como Microsoft, Google, a Apple citada anteriormente, Amazon, Samsung e outras, não só do ramo tecnológico, mas de todos os ramos existentes, fazem reuniões para a criação de novos produtos para o mercado consumidor com base no pensamento “o que o consumidor precisa?”. Porém, se avaliando melhor, se vê algo mais parecido com “o que o consumidor tem que precisar?”.
Antigamente o mercado emergente dos telefones celulares era conhecido por seus produtos pesados, grandes e nem um pouco portáteis, com limitações de software e hardware, de simples manuseio, com uma vida útil consideravelmente longa e feitos somente para se fazer ligações com quem tivesse um telefone celular. Atualmente o mercado é conhecido por seus produtos grandes e portáteis, com softwares bem desenvolvidos e hardware de alta tecnologia para o mercado consumidor, finos e de peso moderado, podendo ser utilizados para praticamente tudo o que é possível que possam ser utilizados, porém o que menos se usa é a função de ligação para outro telefone celular ou fixo. Sua vida útil foi algo que necessariamente teve que aumentar para que o consumidor não tenha que trocar por motivos de falhas, mas sim tenha um celular que possua mais funções e que seja de qualquer forma melhor que seu anterior, de acordo com a propaganda.


E para onde vai o produto descartado? Para um sistema de reciclagem? A maior parte sim, mas não todo o produto, e essa parte que não pode ser reutilizada não é devidamente descartada. A maior parte dessas sobras de produto não reciclável é mandada para países em desenvolvimento com a desculpa de ajudar o país com tecnologia, sendo que o que realmente estão mandando é lixo. A obrigação de se colocar algo fora se deve ao fato de o fabricante colocar prazos de validade em seus produtos. O professor da Universidade de Weimar, Markus Krajewski, afirma que: “Se uma mesa não quebra sozinha, dentro de certo tempo de uso, o próprio fabricante estipula seu prazo de validade”. Segundo o professor, é provável que rachaduras sejam inseridas na madeira do pé da mesa de forma imperceptível para o consumidor, que as enxerga como um desgaste natural do próprio objeto, e não um defeito proposital para reduzir a vida útil do produto.
            E realmente é necessário tudo isso? Os produtos que compramos realmente são o topo da categoria? Ou será que em seis meses teremos um produto superior ao que compramos e ouviremos a mídia e as pessoas dizerem que é ultrapassado e precisa ser descartado para se comprar a novidade do mercado? É necessária essa ânsia por um produto ligeiramente melhor que o que já se tem? Ou nos contentamos com o produto que já temos e que atende às nossas necessidades?

Webgrafia:


3 comentários: