por
Adriano S. M.
Atualmente
é normal se ouvir que a cada ano a empresa Apple lança um Iphone melhor que seu
antecessor. E quais são as diferenças do novo modelo? Uma tela ligeiramente
maior, melhorias no software, design novo, novos aplicativos exclusivos, novas
aplicações e outros. Os que não estão acostumados dirão que isso é exploração
do consumidor, o que de certa forma não deixa de ser; achariam também um
absurdo o grande marketing que é feito em cima de cada produto novo feito por
essas empresas, que produzem e distribuem suas mercadorias com poucas novidades
para um mercado manipulado pela propaganda e incitado ao consumo como hábito,
para assim aumentar o valor da marca e ganhar mais espaço nesse mercado
necessitado.
Todo
esse movimento de investimento no marketing e diminuição do tempo de circulação
de um produto começou como uma ideia em 1925, quando cartel Phoebus, um grupo
formado pelos maiores produtores de lâmpadas dos Estados Unidos e da Europa,
decidiu que deveriam diminuir o tempo de duração das suas lâmpadas de 2.500
horas para 1.000 horas, barateando assim a produção e aumentando o lucro de
suas empresas filiadas. Porém o conceito de “obsolescência programada” só foi
criado por Bernard London, um investidor imobiliário norte-americano, que
trazia à tona novamente a ideia de reduzir a duração útil dos produtos para
impulsionar o mercado americano que passava pela crise da Grande Depressão, em
1929.
Porém
a ideia não foi aceita e por ser considerada como radical para a época foi
refutada. A ideia de London só foi posta em prática na década de 1950 pelo
design industrial Brooks Stevens, no início do período conhecido como Guerra
Fria (que se iniciou logo após o término da Segunda Grande Guerra, em 28 de
agosto de 1945). Stevens era famoso por fazer desenhos modernos para o
desenvolvimento de produtos. Ele defendia a obsolescência programada
veementemente e argumentava que ela dependia somente do consumidor dizendo:
“Todos os consumidores desejam novos produtos no mercado e são livres para
decidir comprá-los ou não, não importando se a duração do produto é menor ou
maior”. Com essa redução de vida útil dos produtos e o investimento maior em
propaganda, a ideia de comprar por necessidade era substituída pela necessidade
de comprar por hábito.
Com a
redução da vida útil veio também a necessidade do descarte do produto
inutilizado, e com isso vem a necessidade de comprar o mesmo produto para
substituir o descartado. Atualmente isso é visto constantemente na área de
tecnologia voltada aos computadores e telefones celulares. A cada semestre
empresas como Microsoft, Google, a Apple citada anteriormente, Amazon, Samsung
e outras, não só do ramo tecnológico, mas de todos os ramos existentes, fazem
reuniões para a criação de novos produtos para o mercado consumidor com base no
pensamento “o que o consumidor precisa?”. Porém, se avaliando melhor, se vê
algo mais parecido com “o que o consumidor tem que precisar?”.
Antigamente o mercado emergente dos telefones
celulares era conhecido por seus produtos pesados, grandes e nem um pouco
portáteis, com limitações de software e hardware, de simples manuseio, com uma
vida útil consideravelmente longa e feitos somente para se fazer ligações com
quem tivesse um telefone celular. Atualmente o mercado é conhecido por seus
produtos grandes e portáteis, com softwares bem desenvolvidos e hardware de
alta tecnologia para o mercado consumidor, finos e de peso moderado, podendo
ser utilizados para praticamente tudo o que é possível que possam ser utilizados,
porém o que menos se usa é a função de ligação para outro telefone celular ou
fixo. Sua vida útil foi algo que necessariamente teve que aumentar para que o
consumidor não tenha que trocar por motivos de falhas, mas sim tenha um celular
que possua mais funções e que seja de qualquer forma melhor que seu anterior,
de acordo com a propaganda.
E para onde vai o produto descartado? Para um sistema
de reciclagem? A maior parte sim, mas não todo o produto, e essa parte que não
pode ser reutilizada não é devidamente descartada. A maior parte dessas sobras
de produto não reciclável é mandada para países em desenvolvimento com a desculpa
de ajudar o país com tecnologia, sendo que o que realmente estão mandando é
lixo. A obrigação de se colocar algo fora se deve ao fato de o fabricante
colocar prazos de validade em seus produtos. O professor da Universidade de
Weimar, Markus Krajewski, afirma que: “Se uma mesa não quebra sozinha, dentro
de certo tempo de uso, o próprio fabricante estipula seu prazo de validade”.
Segundo o professor, é provável que rachaduras sejam inseridas na madeira do pé
da mesa de forma imperceptível para o consumidor, que as enxerga como um
desgaste natural do próprio objeto, e não um defeito proposital para reduzir a
vida útil do produto.
E
realmente é necessário tudo isso? Os produtos que compramos realmente são o
topo da categoria? Ou será que em seis meses teremos um produto superior ao que
compramos e ouviremos a mídia e as pessoas dizerem que é ultrapassado e precisa
ser descartado para se comprar a novidade do mercado? É necessária essa ânsia
por um produto ligeiramente melhor que o que já se tem? Ou nos contentamos com
o produto que já temos e que atende às nossas necessidades?
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